Fazemos a antevisão e damos vantagem aos diferentes grupos posicionais ofensivos de ambas as equipas...
Depois de 23 jogos ao longo da 13ª edição da fase regular da Liga Portuguesa de Futebol Americano, finalmente chegamos ao jogo final, jogo que irá coroar o campeão da presente temporada. E, pela segunda vez na história, a história repete-se ao fim de um ano, teremos a mesma final a repetir-se com os Cascais Crusaders e Lisboa Devils com um “date” marcado para o Estádio Municipal José Bento Pessoa na Figueira da Foz.
Enquanto o grande dia não chega, vamos fazer uma avaliação aos vários grupos posicionais de cada equipa e como isso se compara entre as duas equipas começando pelas unidades ofensivas de ambas as equipas.
Quarterbacks: Matias Manuel vs Bernardo Solipa
Quando olhamos para os dois principais protagonistas ofensivos, vemos claras diferenças no seu estilo de jogo e naquilo que podem trazer para a partida, mas as estatísticas dão-nos indicadores muito idênticos sendo que as realidades vividas são muito distintas.
Matias Manuel chega a este jogo com sete jogos disputados, 14 touchdowns de passe lançados mantendo uma média de 2 touchdowns por jogo. Além do perigo que representa a nível de jogo ofensivo de passe, é na dimensão do jogo de corrida que é claramente o melhor quarterback em Portugal, com 4 touchdowns marcados ao longo da temporada.
A sua temporada contou com grandes jogos, jogos contra os Navigators, Renegades e Mutts (na fase regular) onde marcou três touchdowns de passe, mas também teve jogos como contra os Warriors onde a sua execução foi abaixo do esperado e da expectativa.
A ligação e relação que tem com Paulo Terrinca, o seu Treinador e “play caller”, acaba por levar ambos a encontrarem-se naquilo que o Matias faz de melhor no relvado, explorar passes mais horizontais e próximos da linha de scrimmage, arriscar mais em passes para zonas exteriores do relvado e sempre numa ótica de passes intermédios.
Talvez a grande fragilidade do seu jogo seja a falta de jogo vertical, mas a realidade é que isso não é necessário num sistema ofensivo como o dos Crusaders, onde o quarterback se torna o puro maestro e leitor do jogo, o protagonismo acaba muito mais por estar nos seus wide receivers que sabem fazer acontecer quando têm a bola nas mãos.
Quando olhamos agora para o Bernardo Solipa, encontramos um quarterback que disputou sete jogos ao longo da temporada, 13 touchdowns de passe marcados com uma média de 1.85 touchdowns por jogo. O jogo de corrida do Bernardo levou-o a marcar 2 touchdowns ao longo da temporada, sendo que não é algo que utilize de forma deliberada, sendo geralmente o seu terceiro plano de ação quando está no relvado.
Aquilo que quero dizer com terceiro plano de ação é que o jogo de corrida é usado apenas depois de “tentativa de passe”, “fuga do pocket para tentativa de passe”, e apenas após essas duas, a corrida se torna uma opção.
Ao longo da temporada teve grande jogos, no jogo contra os Mutts para arrancar a temporada lançou 4 touchdowns, sendo o melhor registo individual da temporada para qualquer quarterback, sendo que após isso teve jogos contra os Lions e Warriors onde lançou 2 touchdowns, mas também acabou por ter outros dois jogos (Navigators e Renegades (fase regular)) onde ficou a zeros.
A sua temporada não foi a melhor a nível de decisões individuais dentro do jogo, o seu “arsenal de armas” é talvez mais vasto do que o seu oponente, mas a realidade é que agregando a posição de quarterback com o cargo de coordenador ofensivo e treinador principal, pode ser algo mais complexo do que esperado na própria gestão e fluidez do jogo.
A necessidade de ter de preparar o jogo, pensar o jogo no decorrer do mesmo, chamar as jogadas e ainda executar, torna-se algo que ao longo da temporada e, em determinados momentos da época, se tem revelado um verdadeiro desafio para o Bernardo e, consequentemente, prejudica a equipa.
Voltando ao foco de ambos os atletas, a realidade é que ambos os jogadores têm um campeonato ganho na posição de quarterback, Bernardo quando triunfou sobre os Mutts no final da 10ª edição da LPFA, Matias quando venceu os Devils na dição passada da LPFA.
O talento de ambos é inegável, a experiência em jogos “grandes” é visível, mas olhando para os ambientes que ambos vivem, aquilo que é o próprio sistema e tudo mais que está envolvido, neste momento a nossa vantagem vai para Matias Manuel na posição de quarterback.
Runningbacks: Jesuíno “Juzz” Furtado vs Salvador Bolzoni
Quando olhamos para o jogo de corrida de ambas as equipas, existem dois nomes que se destacam, Jesuíno “Juzz” Furtado e Salvador Bolzoni.
“Juzz” teve uma temporada fantástico, depois de superar uma lesão grave no joelho, regressa e ao longo de sete jogos conseguiu somar 12 touchdowns de corrida e ainda mais 1 touchdown no jogo de passe. O seu adverário posicional, Salvador, conseguiu 6 touchdowns de corrida e 1 touchdown de passe ao longo de quatro jogos disputados sendo que fico uausente de algumas partidas por lesão.
Ambos os jogadores são jogadores que fazem a diferença, “Juzz” um runningback com um estilo mais variado, capaz de se ajustar ao estilo de defesa que tem diante de si, capaz de mudar o jogo numa jogada e com uma capacidade de ser evasivo que é ímpar, em Portugal.
Já no caso de Salvador, é um atleta mais para correr entre os seus tackles ofensivos, capaz de correr com a bola de forma física, “one cut type” na posição de runningback, mas em campo aberto capaz de fazer os seus adversários falharem.
Olhando para a posição em si, é onde temos algo que os Crusaders acabam por ter clara vantagem, profundidade posicional. Na ausência de Salvador temos João Branco, João “Train” Marques e também Vítor Moreira que podem cumprir na posição e contribuir de forma positiva. No lugar dos Devils, a saída de “Juzz” representa uma grande quebra com Pedro Costa a ter sido a solução em alguns jogos durante a fase regular e mais recentemente com Rodrigo Oliveira.
No entanto, olhando para os atletas, considerando também a posição, na posição de runningback a nossa vantagem vai para Jesuíno “Juzz” Furtado e os Lisboa Devils.
Wide Receivers: Francisco Lory & Duarte Cruz vs Guilherme Solipa & Bruno Cardoso
Muito que pode ser dito sobre os “playmakers” que teremos no relvado, quer para os Crusaders, quer para os Devils – 27 touchdowns de passe entre todos eles.
Começando na equipa de Cascais os principais nomes são Francisco Lory e Duarte Cruz, mas podemos adicionar igualmente nomes como Pedro Balle, Marcos Heleno e o regressado Bernardo Carvalho.
O Francisco ganha o destaque como o melhor WR da temporada, uma época onde conseguiu amealhar 6 touchdowns de passe, intercepções e ser o principal motor da equipa nas devoluções de bola nas equipas especiais. Um WR que faz tudo, e tudo bem, desde bloquear, correr rotas, ser horizontal e vertical com a bola nas mãos, evadir adversários, é um portfólio riquíssimo e que o torna a principal arma dos Crusaders.
O Duarte Cruz é um “velho Crusader”, muitos anos com a equipa, experiências internacionais com uma temporada na República Checa e com uma consistência posicional tremenda. É talvez um atleta mais vertical, capaz de criar separação apesar de a velocidade não ser a sua principal arma, mas o controlo corporal e habilidade de observar e compreender a bola, o tornam especial.
Destacamos ainda o Pedro Balle e Marcos Heleno, WRs mais jovens mas que tiveram boas temporadas, o Pedro Balle em particular a ganhar destaque mais para o final da temporada com 2 touchdowns no jogo diante dos Maia Mutts.
O Bernardo Carvalho teve o azar de se lesionar logo no jogo contra os Salgueiros Renegades, mas sendo um verdadeiro espécime físico, regressa para a fase a eliminar da competição tendo já participado diante dos Mutts nesse jogo de “mata mata”. No início da temporada foi muitas vezes usado em corridas vindo do backfield, usado em algumas jogadas muito “Travis Kelce” inclusive em “QB sneaks” sendo um jogador que compreende muito bem o jogo, é muito físico e pode dar uma presença mais possante para os Crusaders.
Quando viramos o foco para os Lisboa Devils os nomes que mais se destacaram ao longo da temporada foram Guilherme Solipa, Tristin Park e Bruno Cardoso.
O Guilherme vinha de uma temporada extraordinária onde se apresentou como uma das armas mais verticais e velozes da nossa liga. Este ano a temporada não terá sido tão vistosa, mas conseguiu mesmo assim somar 6 touchdowns de passe ao longo de sete jogos disputados e foi-se adaptando a um papel mais amplo dentro do ataque da equipa de Lisboa. A sua velocidade é a sua principal arma e a capacidade de criar separação será sempre a forma como pode mudar o jogo de um momento para o outro, em particular quando o seu quarterback, e irmão, tem braço para o colocar nas costas dos seus adversários.
Já Tristin Park foi uma arma tremenda para os Devils ao longo de quatro jogos na temporada, somou 5 touchdowns de passe, 1 touchdown em equipas especiais, mas a realidade é que está fora do grande jogo e não fará parte da equipa de Lisboa.
Bruno Cardoso é um dos jogadores que faz parte dos Devils desde o primeiro ano, ao longo dos anos foi sempre somando experiência em várias posições, mas este ano regressou onde começou, na posição de WR. Somou 1 touchdown de passe e 1 touchdown de corrida ao longo da temporada, onde a sua utilização foi crescendo e alinhando inclusive em várias posições no relvado. Tem um controlo corporal acima da média e umas mãos muito seguras, um WR muito ao estilo do Duarte Cruz dos Crusaders.
Ainda destaque final para Franscisco Ferreira que depois da saída de Tristin Park ganhou espaço na equipa, um WR que não tem propriamente um físico imponente, mas revela uma adaptação ao sistema muito rápida e sendo igualmente esforçado no que diz respeito ao jogo de corrida com uma boa capacidade de bloqueio.
Olhando para os dois grupos posicionais temos talento em todo o relvado, é daqueles casos onde é evitar fechar os olhos porque qualquer um dos atletas mencionados poderão fazer algo acontecer, mas a profundidade e experiência posicional dos Crusaders faz com que a nossa vantagem neste grupo posicional esteja do lado da equipa de Cascais.
Linhas Ofensivas: “Os big five”
“Big boys, big boys” o que é que tu vais fazer quando te deparares com eles? É a grande questão que fica porque estamos provavelmente perante a melhor linha ofensiva da temporada e a linha ofensiva que mais evoluiu ao longo da época.
Quando olhamos para os Cascais Crusaders o grande destaque vai para a fisicalidade que a linha ofensiva tem, João Pereira, João Barros, Otávio Maues, João Inácio e Diego Maciel são uma verdadeira parede, super consistente e capazes de jogarem em várias posições dentro da linha ofensiva e sempre de forma bastante produtiva e capaz. Se adicionarmos ainda Júlio Martins, dirigente e jogador dos Crusaders, jogador com muitos anos de experiência, é inegável todo o talento, experiência e rigor que esta linha ofensiva tem.
Destaque ainda para o trabalho que é feito pelo coordenador de linhas ofensivos, Hélio Figueiredo, que na interpretação e leitura que vamos tendo dos jogos, se tem revelado um dos melhores e mais produtivos treinadores da temporada.
Do outro lado temos a linha ofensiva dos Devils com Antoine Fernandez, Nicolas Pereira, Diogo Cassiano, Gonçalo Dias e Gonçalo Duarte que se têm destacado pela evolução que têm tido ao longo da época. A linha ofensiva começou a temporada sendo algo inconsistente e onde correr a bola não era a mais valia deste ataque, no entanto a realidade é que ao longo da época isso mudou. Correr a bola tornou-se a natureza principal deste ataque, desde formações mais orientadas para isso com mais peso até da habitual “spread formation” que vamos encontrando na equipa de Lisboa.
O grande destaque nesta evolução acaba por ir para Gonçalo Duarte que no seu primeiro ano na posição acabou por ter um excelente crescimento e ganhar a sua posição e contribuição para a equipa é bastante visível dentro do relvado.
Apesar desta tremenda evolução da linha ofensiva dos Devils, a nossa vantagem vai para os Crusaders que têm cinco jogadores na linha ofensiva com experiência, com muita fisicalidade e muita capacidade de tomarem conta do jogo enquanto unidade.
Fica a nossa análise às várias unidades ofensivas, claro destaque para o domínio dos Crusaders nas vários grupos posicionais sendo que em nenhum deles consideramos que exista uma vantagem distinta sobre o seu adversário, o mesmo a ser dito para o grupo posicional onde atribuímos vantagem aos Devils, a profundidade desse grupo para os Crusaders acaba por tornar todo o nível de jogo muito idêntico.