É preciso saber sofrer..

Geralmente começamos pelo início e destacamos os protagonistas ao longo do artigo, neste caso ao longo do jogo,  ao longo do evento que tivemos este passado fim-de-semana entre os Maia Mutts e Lisboa Navigators.

No entanto desta vez vou mudar a narrativa e vou começar por vos apresentar o Arthur Faria (QB#1), Francisco Bandeira (RB#10), Fábio Gama (WR#6), Alex Mexedo (LB#21), Tomás Gonçalves (#18) e Denis Gunez (OL/DL#72) que foram alguns dos protagonistas que vieram da Maia até Lisboa para este duelo.

Do outro lado estavam José Soares (DL#72), Rafael da Silva(RB#36), Ricardo Faia(#83), Ricardo Ladeira (RB#9), Rodrigo Meneses (CB#21) e Nuno Rodrigues (DB#92) que foram outros protagonistas, desta vez da equipa da casa, que tornaram este jogo repleto de emoção.

O primeiro quarto da partida foi claramente defensivo, as duas unidades de ambas as equipas iam ganhando a batalha no jogo. Seria no 3º drive ofensivo dos Navigators, já com o jogo no segundo quarto, que os Navigators conseguiriam finalmente marcar, utilizando formações muito condensadas, puxando muitos jogadores para o interior do relvado, seria a velocidade de Jardel Andrade que ganharia numa corrida pelo exterior e capitalizando com os bons bloqueios dos seus colegas de equipa. O ponto extra de Cláudio Santos, o Kicker da equipa, seria bloqueado.

A resposta dos Mutts não foi imediata porque José Soares e Edinaldo Estrela decidiram continuar a tomar conta do jogo com sucessivas placagens para perda de jardas e sacks ao quarterback adversário.

No entanto com a defesa dos Mutts a dar ainda nova oportunidade seria no 4º drive ofensivo dos Mutts que teríamos provavelmente o melhor drive do jogo. Arthur Faria faria uma conversão em 3º down e longo fantástica, continuou a confiar em Fábio Gama logo de seguida noutro bom passe e já na redzone coloca com novo passe a sua equipa próximo da linha de touchdown.

Seria depois o jovem Francisco Bandeira que mostraria toda a sua irreverência ao correr de forma horizontal, leste/oeste, para de repente parar e levar o seu adversário a não conseguir aguentar a sua velocidade no corte, entrando num registo norte/sul, para entrar na endzone e marcar touchdown.

O jovem Francisco ganhou neste duelo individual a Edinaldo “Naca” Estrela, o que só por si é muito difícil, mas acabaria por dar os primeiros pontos para a sua equipa e deixar o jogo empatado depois de um ponto extra falhado.

Os Navigators tentaram responder mas o jogo de passe não entrava e seria a redenção de Nuno Rodrigues que daria nova oportunidade aos Navigators ainda antes do intervalo. Depois de ter falhado a conversão de um fake punt, conseguia logo no drive seguinte uma intercepção e dava a bola aos Navigators ainda que bastante longe da endzone.

Já dentro dos últimos dois minutos seria Ricardo Ladeira com uma boa corrida, nova boa corrida de Nélson Fidalgo depois de um passe curto de Tiago Ladeira e teríamos o touchdown com Ricardo Faia a receber uma grande bola com menos de 15 segundos por jogar. O ponto extra seria bem convertido.

Já na segunda parte do jogo os Mutts entraram decididos a correr a bola utilizando para isso uma formação com mais linhas ofensivos, seria o treinador e super jogador Nuno Simões a alinhar numa posição tipicamente de tight end para juntamente com Denis Gunez, um “mini Simões” se assim quisermos dizer, tentar impor o jogo de corrida com powers/ de Francisco Bandeira. Foi uma receita de pouco sucesso, ou de pouca duração.

Nesta fase o jogo vivia repleto de turnovers, Tiago Ladeira ofereceu um, Arthur Faria veria Francisco Meneses a roubar outra numa intercepção com uma mão espectacular e ainda teríamos um fumble dos Navigators quando o center tentava dar a bola ao seu quarterback. Muitos erros de parte a parte ofensivamente.

Seriam os Muts a primeira equipa a marcar na segunda parte depois de um drive onde vimos Arthur Faria converter um 4th down numa corrida para o seu lado esquerdo, novas boas corridas sucessivas de Francisco Bandeira e claramente o ímpeto a ficar na equipa de verde e preto.

Seria um grande passe de Arthur para Fábio Gama que deixava o jogo por um ponto quando a equipa dos Mutts arrisca em ir para dois pontos, mas o passe não encontra o destino pretendido pela equipa da Maia.

Já estávamos dentro dos últimos 5 minutos do jogo e os Navigators corriam a bola, tentavam usar relógio mas seria num 4th down que teríamos outra grande jogada quando os Navigators apresentam uma formação em “I”, fazem um play action, e seria Alex Mexedo que faria um blitz pelo lado cego do quarterback para o castigar.

Nova oportunidade para os Mutts mas a defesa dos Navigators foi imperial, não deu margem para grande manobra e seria já no final do jogo que Ricardo Ladeira colocava o ponto final no jogo, com novo touchdown de corrida e novo ponto extra falhado.

Foi um jogo com excelentes momentos de Futebol Americano, emoção até ao final como é apanágio destas duas equipas e no final ganhou a equipa com melhores recursos e maior capacidade de sofrer.

Destaque pela positiva – Maia Mutts

Tenho muito respeito pelos 22 jogadores que vieram a Lisboa e durante quatro quartos deixaram tudo no relvado. Tive a oportunidade de ver muitos jovens jogadores com imenso talento e destaco-os desde o início do artigo, mas para mim o grande destaque vai para a qualidade de jogo que o Arthur Faria leva para o campo, bem como a sua postura e liderança que são a personificação daquilo que deve ser um quarterback.

Aspectos a melhorar – Maia Mutts

Acho que é a primeira vez que tenho dificuldade em colocar algo num aspecto a melhorar mesmo falando da equipa que perdeu o jogo. Sinto que os Muts sistematicamente fazem mais do que é suposto e, para mim, isso só me deixa a pensar no que fariam se tivessem os mesmos recursos (número de atletas) de outras equipas. Por isso destacaria a necessidade de arranjarem mais jogadores, crescerem a equipa técnica e os Mutts seriam seriamente uma equipa a considerar para outras andanças.

Destaque pela positiva – Lisboa Navigators

Os números de atletas, números de treinadores e capacidade de sofrer (sem quebrar!) da equipa de Lisboa são traços de uma equipa que tem grandes aspirações. A resposta do ataque no final da primeira parte, e resposta da defesa ao fechar a segunda parte, são sinónimos de um coletivo forte e que em qualquer momento pode tomar conta do jogo e contribuir para a vitória. Individualmente quero destacar o José Soares, linha defensivo, que acho que é neste momento o jogador mais dominante da liga.

Aspectos a melhorar – Lisboa Navigators

Sigo sem ser muito fã do esquema ofensivo da equipa de Lisboa, em particular no jogo de passe. O Tiago Ladeira é um bom quarterback, mas não tem (ainda) braço nem capacidade para fazer muitos dos passes que lhe pedem. É preciso ajudar o quarterback e ajudar a equipa jogando de forma mais situacional, algumas decisões na segunda parte (jogar 4th down na sua própria redzone ou o fake punt falhado) podem custar caro noutros contextos.

Fotografias: Figueira Photo @figueira.photo

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