Os deuses devem andar loucos

Os Deuses do Futebol Americano gostam de brincar com as nossas emoções e num sábado de “Verão” no norte do país tinham uma prenda bem guardada para o final do jogo entre os Cascais Crusaders e Salgueiros Renegades.

Duas equipas que se defrontavam com ambições idênticas, selar a vitória e caminhar para o topo da classificação da 14ª edição da Fase Regular da competição. Uma edição da competição pautada por surpresas e resultados inesperados, tinha algo bem guardado para nós.

No primeiro quarto os Renegades entraram determinados, a equipa de Salgueiros sobre a tutela de Francisco Pereira conseguiria capitalizar com os primeiros pontos depois de uma fuga do pocket por parte do quarterback da equipa da casa que depois deixou vários adversários no espelho retrovisor e apenas parou dentro da endzone. O ponto extra de Luis Perez seria bem convertido.

A resposta dos Crusaders fez-se sentir de imediato, o jogo de passe para lá da linha de scrimmage tardava a entrar mas o jogo de screen deu frutos e Francisco Lory faz uma jogada eletrizando e aproveitando esse ímpeto Salvador Bolzoni capitaliza para touchdown com ponto extra depois devidamente bem convertido por Marcos Heleno.

Já no segundo quarto do jogo continuava ao espectáculo de Francisco Pereira que depois de sofrer um sack para imensas jardas perdidas, consegue iludir vários adversários e num passe contra o movimento do seu corpo encontra Vasco Pinheiro para um touchdown de GRANDE nível. O ponto extra seria bem convertido.

Por entre jogadas loucas, um punt dos Renegades que parecia que ia ser um safety/touchdown para os Crusaders mas que resulta num punt que quase foi fumble, as defesas assumiam o jogo e os ataques demonstravam algum nervosismo.

Acabaria por ser João “Train” Marques a marcar ainda antes do intervalo com nova corrida, o ponto extra seria falhado e o jogo ficava por um ponto de diferença quando íamos para o intervalo.

No terceiro quarto tivemos um jogo novamente bem disputado por ambas as equipas e acabaria por ser Francisco Pereira que novamente fazia uso das suas pernas para marcar novo touchdown para a sua equipa. A vencerem por sete pontos a decisão da equipa orientada por Marcus Allex passa por ir para dois pontos para tentar deixar o jogo por duas posses de bola, mas a jogada acaba por ser bem parada pela defesa de Cascais.

Saltando para o último quarto do jogo e próximo dos três minutos finais do jogo, os Crusaders finalmente conseguem voltar a pontuar e Duarte Cruz é o protagonista depois de receber um passe rápido de Matias Manuel. A perderem por um ponto e com confiança de que o seu ataque podia ganhar o jogo, os Crusaders tentam marcar dois pontos mas a defesa dos Renegades foi imperial.

No entanto ninguém nos prepara para as emoções que os deuses do Futebol Americano gostam de nos transmitir e, imediatamente na recolocação de bola seguinte, os Crusaders tentam um onsisde kick e recuperam. De cabeça, provavelmente o primeiro onside kick que me recordo de ver na liga desde a LPFA4 ou LPFA5.

Mas se achavam que o melhor já tinha acontecido, desenganem-se porque imediatamente na jogada seguinte temos Matias Manuel a lançar um foguete de passe para Marcos Heleno (kicker que falhou o ponto extra na primeira parte) que nas costas de André Augusto (que fez duas intercepções na segunda parte) consegue receber e marca o touchdown da vantagem.

Mas se achavam que o melhor já tinha acontecido, desenganem-se porque fruto das emoções os Crusaders optam por ir para um ponto, o que na altura é completamente irrelevante porque deixaria o jogo por seis pontos (em caso de conversão) ou cinco pontos (em caso de falha). No entanto Salvador Bolzoni depois de um mau snap, decide pegar na bola e correr com ela convertendo dois pontos e deixando o jogo como originalmente ele deveria estar e ser pensado, por sete pontos.

Mas se mesmo assim achavam que o melhor já tinha acontecido, agora vocês estão certos, tirando se gostarem realmente de poesia e cinema porque na tentativa de recuperar a desvantagem os Renegades acabam por lançar uma intercepção para João “Train” Marques que coloca um ponto final, parágrafo e a vitória é dos Cascais Crusaders.

Um jogo de LOUCOS onde acabou por ganhar a equipa que melhor soube sofrer e que no final teve a experiência para saber lidar com os grandes momentos do jogo.

Destaques pela positiva (Crusaders)

A capacidade de saber sofrer, a noção de que o jogo tem sempre quatro quartos e que apenas termina no apito final são características de campeão. A forma como a equipa se manteve focada apesar de as coisas nem sempre correrem como queriam é o grande destaque positivo para mim desta partida. Podemos falar de sorte, mas a sorte dá muito trabalho.

Aspectos a melhorar (Crusaders)

O jogo de passe dos Crusaders está umas boas jardas ao lado daquilo que tem sido nos anos recentes. A integração de vários novos elementos na linha ofensiva pode justificar uma % disso, mas a decisão de Matias Manuel é para mim o grande elemento que tem de melhorar para o futuro. No entanto, quando foi preciso ele esteve lá e, no final, quando se ganha tudo está bem.

Destaques pela positiva (Renegades)

A equipa apareceu super bem-preparada e a jogar de forma coletiva para chegar ao resultado pretendido. Tinham uma ausência de grande peso no plano defensivo com o capitão João Mota fora, mas a equipa soube jogar dentro das suas competências. O Francisco Pereira fez provavelmente um dos seus melhores jogos a nível individual se retirarmos o último drive da equação.

Aspectos a melhorar (Renegades)

Ingrato o que vou dizer porque sinto que os Renegades de facto estiveram presentes com um grande nível de preparação, mas quando foi preciso “assumir o momento” a equipa acabou por não conseguir. Como a equipa vai reagir (mentalmente e coletivamente) a este jogo ditará o rumo da temporada da equipa.

Fotografias: @Fourteen.jpg

Categorias:

Partilhar :