Achei por bem lançar este artigo de opinião para que possa trazer alguma luz, em primeiro lugar, sobre quem está a liderar o rumo do Futebol Americano em Portugal neste momento, em segundo lugar para a situação no jogo entre Maia Mutts e Salgueiros Renegades e, por fim, para a decisão final que foi proferida pelo comité de gestão da Federação Portuguesa de Futebol Americano, deixando neste último a minha opinião pessoal sobre a decisão.
Primeiro é importante constatar o facto de que antes do arranque da presente edição da competição a anterior direção da Federação Portuguesa de Futebol Americano, encabeçada por Rui Pedro Soares, optou por se demitir e a continuidade da presente competição desportiva foi assegurada por um comité de gestão onde estão incluídos membros dos clubes todos, uma decisão nada fácil e que apenas comprova como tem sido apanágio em anos recentes que são os clubes que continuam a levar o Futebol Americano em frente.
Ficou igualmente determinado que cada clube teria um determinado alcance de responsabilidades, desde o calendário da competição e respectivo sorteio, a gestão dos árbitros no Conselho de Arbitragem, gestão do Conselho Disciplinar, entre outros.
O que consta acima são factos e é a realidade da 14ª edição da Liga Portuguesa de Futebol Americano.
Olhando agora para os eventos do jogo entre Salgueiros Renegades e Maia Mutts, o jogo foi sorteado no início da temporada desportiva, o jogo estava marcado para o dia 11 de maio e todos os envolvidos no jogo sabiam que no mesmo dia, e no mesmo horário, haveria outro jogo a ser realizado na região de Lisboa.
É igualmente importante trazer para conhecimento comum e geral de que existe um pool de árbitros cada vez mais reduzida, e sendo este jogo um jogo local com duas equipas da mesma região, teria desde logo sido mais inteligente uma remarcação deste jogo para outro dia, ou pelo menos para outro horário dentro do mesmo dia para evitar possíveis situações de conflito. Isto não aconteceu, é óbvio, e nada pode ser feito neste momento para remediar isso.
Agora dentro do próprio dia, dentro do próprio evento, e daquilo que foi proferido por ambos os clubes nos seus respectivos comunicados e “diz que disse”, é um domínio que não vou querer entrar porque não estando presente vou apenas tirar ilações e não é o meu objetivo.
Vou analisar factos que posso interpretar e dos quais posso efetivamente falar. Os factos são que o jogo não se realizou porque não houve equipa de arbitragem e porque não se chegou a uma decisão comum entre ambas as equipas para a realização dele. O que consta no relatório de jogo é que havia dois árbitros disponíveis, recrutados da bancada e presentes no local, a equipa da Maia não achava que havia condições para jogar e houve insistência da equipa de Salgueiros para a realização do jogo.
Olhando agora para o terceiro elemento deste artigo, a decisão, em que a maioria dos clubes acabou por votar em atribuir derrota aos Maia Mutts e dar a vitória por 21-0 aos Salgueiros Renegades, apenas posso tecer a minha opinião.
A minha opinião é que esta decisão vai contra tudo o que é verdade desportiva, vai contra tudo aquilo que é o respeito por todos os elementos envolvidos com o futebol americano, todos os jogadores, todos os treinadores, todos os dirigentes, todos os árbitros, todos os adeptos, todos os amantes de Futebol Americano.
Agora vão dizer que se aplicaram os regulamentos que dizem que se deve ir buscar “pessoas” às bancadas, facto. E, posteriormente, que aplicaram falta de comparência seguindo igualmente o que está descrito nos estatutos, facto.
Agora, o que não consigo compreender é quais os factos e argumentos que foram efetivamente discutidos e analisados para aplicar os elementos anteriores, porque apenas interpretando o que está no relatório de jogo, em momento algum podemos aplicar uma falta de comparência aos Maia Mutts. Isto é outro facto.
Se queremos ser sérios, o que acho que deve ser o caminho, devemos aplicar os regulamentos de forma igualmente séria, mas sempre com bom senso presente. Se formos novamente puramente pelo caminho de aplicar os regulamentos de forma empírica, quase 100% dos jogos não se realizavam porque os campos não estão em conformidade com os estatutos, por exemplo. Pensámos nisto?
Não gosto que uma equipa se recuse a jogar quando outra procura todas as soluções possíveis e imaginárias, mas ao mesmo tempo gosto ainda menos da decisão proferida na sequência dos eventos do dia 11 de maio 2024 com base nos factos que realmente podemos avaliar. Novamente, vamos excluir os “diz que disse”, “diz que fez”, etc.
Nunca vou conseguir aceitar que seja atribuída a uma equipa uma “vitória na secretaria” quando temos outras opções que podem ser exploradas. Muito menos quando a “vitória” automaticamente qualifica uma equipa para os playoffs num cenário onde podiam ficar ainda excluídos do mesmo.
Também reconheço a 100% que as opções eram reduzidas para esta fase da temporada, mas existiam outros caminhos que não fossem colocar este feio carimbo na presente edição da competição, que até ao momento estava a ser das mais interessantes no plano desportivo, e agora querendo ou não vai ficar marcada por esta situação.
Em cima disso, falamos da necessidade de união entre todos os envolvidos no futebol americano, esta decisão apenas vem criar mais desunião, vem criar mais separação e distanciamento, e na minha interpretação pode inclusive levar a que árbitros se recusem a colaborar mais com isto, que alguns clubes simplesmente deixem de competir ou mesmo afastar qualquer possível interessado em se juntar ao nosso desporto.
Continuamos a achar que podemos tomar as decisões sem consequências, acredito que esta decisão pode ter sérias consequências e caso continuemos a não encontrar forma de vivermos juntos vamos apenas acabar a morrer sozinhos…