Uma remontada histórica

Era o jogo de todas as decisões e os Cascais Crusaders e Lisboa Devils sabiam disso, por isso entraram em campo para deixar tudo no relvado.

As duas equipas apresentaram-se na sua máxima força, os Crusaders tinham Matias Manuel de regresso, bem como João “Train” Marques que tinham ambos falhado o jogo anterior da sua equipa diante dos Braga Warriors.

Já os Lisboa Devils apresentavam-se com o seu “Super Safety”, o belga Florian, de regresso depois da ausência no jogo diante dos Lisboa Navigators.

O jogo foi muito bem disputado mas a equipa de Cascais mostrou maior acerto, conseguiram ser os primeiros a marcar com Matias Manuel a ser o protagonista ao guiar a sua equipa, quer com corridas de Salvador Bolzoni, quer com passes rápidos para Francisco Lory. Na “redzone”, próximo da zona prometida, foi mesmo Matias Manuel que marcou e deu a vantagem para a sua equipa. O ponto extra seria bem convertido.

Os Lisboa Devils tentavam responder mas havia muito nervosismo, passes fáceis que não eram recebidos, vimos quer Guilherme Solipa quer Bruno Cardoso falharem recepções que outrora “eram figos”. Nesse processo, o nervosismo instalava-se e o próprio Bernardo Solipa cometia erros que não ajudavam em nada a sua equipa.

Nada nervosos e super objectivos, os Crusaders continuaram a sua marcha ofensiva e com esquemas ofensivos de passe bem desenhados, atacavam a secondary defensiva dos Devils e seria Bernardo Carvalho a receber um excelente passe de Matias Manuel para novo touchdown. Novo ponto extra convertido e uma vantagem de catorze pontos para os visitantes.

Ainda antes do intervalo os Devils tiveram uma oportunidade de ouro, um mau punt dos Crusaders deu uma posse de luxo aos Devils a menos de cinco jardas da endzone da equipa de Cascais, mas a realidade é que esse luxo tornou-se um pesadelo porque num passe para Guilherme Solipa, Francisco Felício dos Crusaders antecipou-se e só não marcou touchdown porque Guilherme Solipa ligou o turbo e o conseguiu placar (ilegalmente).

Essa placagem ainda deu uma oportunidade de “Hail Mary” aos Crusaders, mas o passe seria interceptado quando íamos para o intervalo do jogo, em Benfica.

Ao intervalo eram óbvias duas coisas, a primeira era que os Devils já tinham cometido todos os erros permitidos ao longo de dois quartos, a segunda era que os Crusaders controlavam o seu destino…

A segunda parte parecia começar onde a primeira terminou, os Crusaders com um bom drive, ligarem-se ofensivamente e deixarem novamente a sua equipa em zona de marcar pontos. No entanto a defesa dos Devils foi capaz de segurar esse ímpeto e num 4th down em que os Crusaders optaram por jogar, não deram mais pontos ao adversário.

Falávamos de destino, e entra em cena Jesuíno “Juzz” Furtado, que podemos categoricamente rotular como o jogador que traça o seu próprio caminho, escolhe o seu próprio destino, e pelo meio guiou um bando de Devils a um dos comebacks mais históricos da nossa competição.

Ao longo de três drives da segunda parte, fez jogadas simplesmente extraordinárias, evitou mais de duas mãos cheias de placagens e simplesmente negou-se a perder o jogo ao somar três touchdowns que permitiram uma mudança de marcador quando já estávamos no último quarto da partida. Importante também de salientar os três pontos extras marcados por Guilherme Solipa que deixavam o jogo 21-14 a menos de 3 minutos do final da partida.

Existe algo que falamos várias vezes, mas que acaba por ser ainda um dos mistérios do jogo, o “ímpeto da partida”, mas foi exactamente isso que os Devils roubaram e foi exactamente isso que lhes permitiu a remontada.

No entanto com tempo ainda por jogar, os Crusaders ensaiaram um drive ofensivo novamente que os levou até próximos da endzone dos seus rivais. A equipa sabia que precisava de um touchdown e de dois pontos, pois o empate dava vantagem aos Devils, mas a realidade é que não tivemos esse cenário porque um passe de Matias Manuel que tinha como alvo o seu colega de equipa, acaba nas mãos de um rival e, ponto final, os Lisboa Devils avançam para os playoffs.

Foi um dos jogos mais emotivos da temporada, um jogo que quebrou uma sequência de mais de 5 anos em que os Devils não conseguiam vencer os Crusaders, pelo meio com duas finais conquistadas pela equipa de Cascais diante dos seus rivais, mas foi um jogo que honrou aquela que se tornou uma das rivalidades mais bonitas do futebol americano em Portugal.

Destaques pela positiva (Crusaders):

O plano de jogo ofensivo dos Crusaders na minha opinião foi muito sólido, muito bem pensado e acima de tudo bem executado ao longo da maioria dos quartos. Faltou alguma “finalização” no primeiro drive do terceiro quarto, mas não apaga o excelente planeamento feito.

Aspectos a melhorar (Crusaders):

Os Crusaders ressentiram-se muito quando João “Train” Marques se lesionou no decorrer da segunda parte. No plano defensivo falharam imensas placagens e a partir do momento me que deixaram “Juzz” assumir o jogo, o pesadelo ficou instalado e a equipa nunca conseguiu realmente reagir.

Destaques pela positiva (Devils):

Eu não sei o que foi dito no balneário dos Devils ao intervalo, mas imagino que algo como “vamos escrever uma história que seja falada durante anos” tenha sido aquilo que galvanizou a equipa para uma segunda parte fantástica. Livre de erros e onde conseguiram dar uma resposta fantástica e que é de longe o aspecto mais positivo desta partida para a equipa de lisboa.

Aspectos a melhorar (Devils):

Não adorei o plano de jogo ofensivo por parte dos Devils mas a realidade é que os próprios erros é que os foram limitando. A equipa segue muito dependente das individualidades e precisam sempre que um dos três playmakers (Juzz, Guilherme ou Bruno) estejam ON para conseguirem vingar. Gostava de ver o Bernardo a assumir mais o jogo num plano de corrida.

 

Foto: André Mendonça @fourteen.jpg

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