O último jogo da fase regular da 14ª edição da Liga Portuguesa de Futebol Americano não tinha a emoção de “playoffs”, mas tinha a emoção de ser um jogo que permitiria a fuga do lugar que ninguém quer, o de último classificado da competição.
Os Maia Mutts viajaram até Lisboa para defrontar os Lisboa Bulldogs e haviam uns condimentos interessantes para o jogo. Em primeira instância o facto de os Mutts virem da situação diante dos Salgueiros Renegades, onde lhes foi atribuída uma derrota em secretaria de forma inusitada, em segundo porque os Bulldogs vinham crescendo ao longo da época e tinham vencido o seu último jogo diante dos Lisboa Navigators e, por fim, vinha sido anunciado na semana antes do jogo que seria a última partida de Paulo Pillar enquanto treinador principal da equipa dos Bulldogs.
O jogo começou com domínio defensivo de ambas as partes, nenhuma das equipas realmente conseguia impor o seu jogo a nível ofensivo e para começar o jogo tivemos punts para cada uma das equipas.
Seria a equipa da casa a “assentar” primeiro com um drive pautado pelo jogo de corrida com Pedro Monteiro a capitalizar com os primeiros pontos da partida ainda na no 1º quarto do jogo.
Seguia-se uma tentativa de resposta por parte dos Mutts, mas sem nunca realmente conseguirem fazer as coisas acontecer, usando passes curtos com screens, passes para a zona exterior do relvado, corridas interiores onde Ricardo Cunha foi ganhando protagonismo ao longo da partida, os Mutts lá iam movendo a bola, mas nunca sem conseguirem capitalizar.
Ao intervalo o resultado dava vantagem aos Lisboa Bulldogs por sete pontos, mas notava-se que o ataque da equipa da casa era bastante diferente daquele que tínhamos visto um mês antes no duelo com os Navigators, acima de tudo o jogo de passe estava completamente fora de sintonia.
No início da segunda tivemos os primeiros pontos do Mutts que chegaram com uma “Pick six” de Alexandre Mexedo que se “sentou” muito bem na sua zona e conseguiu agarrar um passe de Nuno Represas, quarterback da equipa dos Bulldogs, e correr sem oposição até à endzone adversária. Na tentativa de ponto extra o pontapé foi bloqueado e tivemos recuperação dos Mutts que daria dois pontos.
No ponto atrás importante de informar, visto que identificámos que nem na transmissão do jogo sabiam desta regra, quando um ponto extra é bloqueado atrás da linha de scrimmage (neste caso do lado dos Mutts), a bola é viva, conta como um fumble e pode ser recuperado e levado para dois pontos, quer pelos Mutts, quer pelos Bulldogs. Se a bola tivesse sido bloqueada depois da linha de scrimmage (neste caso do lado dos Bulldogs), era apito imediato e a bola não estava viva.
Após os primeiros pontos dos visitantes a equipa da Maia não quis parar e quando voltou a ter posse de bola, continuou a guiar o seu jogo através de corridas, Ricardo Cunha a ser protagonista máximo, e com a bola já próxima da endzone dos Bulldogs, o Arthur Faria faz um RPO (Run Pass Option) em que finge que dá a bola a Ricardo para fazer um passe para Fábio Gama que mostrando excelente concentração foi buscar a bola e marcou touchdown. O ponto extra desta vez seria bem convertido.
Com o jogo já a caminhar para o final os Bulldogs fizeram de tudo para voltarem ao jogo, mas nunca conseguiram encontrar ritmo ofensivo nem sintonia suficiente para o efeito. A batalha de linha de scrimmage das duas equipas foi real, a linha ofensiva dos Bulldogs que se foi afirmando ao longo da época teve uma missão dura contra os resilientes Mutts que nunca desistiram de causar problemas a Nuno Represas e onde Nuno Simões, Tiago Cardoso e Deniz Gunes foram uma constante ameaça.
O jogo terminaria com emoção, com os Bulldogs a terem a bola nas últimas cinco jardas do seu adversário, com o touchdown mesmo ali e com a oportunidade de pelo segundo ano consecutivo da Liga Portuguesa de Futebol Americano terminarmos a fase regular com um empate, mas tal não aconteceu porque a defesa dos Mutts segurou esse ímpeto e num 4th down impede um passe bem sucedido para a equipa da casa e o jogo termina com a vitória dos Mutts.
Um jogo bem disputado de Futebol Americano, com mais erros na segunda parte fruto da total desconcentração dos Bulldogs, e cansaço dos Mutts que se apresentaram com poucos números, mas sempre fieis a si próprios, sem nunca desistir. A vitória ficou bem entregue.
Destaques pela positiva (Mutts)
A entrega, a raça, o respeito que os Mutts mostram pelo Futebol Americano são das melhores coisas que temos em Portugal. São poucos, têm poucos recursos, mas jogam sempre com o máximo da sua capacidade durante quatro quartos, devem ter muito orgulho nisso.
Aspectos a melhorar (Mutts)
Quer seja pela ausência de recursos, quer seja pelo cansaço, chega uma altura do jogo em que os Mutts são completamente unidimensionais no seu plano de jogo ofensivo. Adorava de ver o portfólio de jogadas a ser aberto até porque sou fã do Arthur Faria, acho-o um dos melhores quarterbacks em Portugal e que tem a capacidade, conhecimento e espaço para ser muito mais do que aquilo que nos mostrou até hoje.
Destaques pela positiva (Bulldogs)
Para mim a grande surpresa da temporada relacionada com os Bulldogs são a sua defesa. Uma unidade que melhorou imenso em comparação com o ano passado, e que neste jogo voltou a mostrar que tem ferramentas para ser uma das melhores no país. Jogam de forma oleada, comunicam e são extremamente físicos.
Aspectos a melhorar (Bulldogs)
Acho que o final de temporada pode fazer bem aos Bulldogs. As expectativas da temporada foram falhadas, nunca se conseguiram impor e terminam em último da fase regular, atendendo ao talento que têm é para mim uma desilusão. Precisam de se olhar ao espelho, enquanto unidade, enquanto equipa, e decidirem o que querem fazer para o futuro porque o talento está tudo lá, os recursos são todos lá, só precisam de definir o seu rumo enquanto equipa.
Fotografia: @figueira.photo