A expectativa era grande, as emoções estavam presentes, e ninguém saiu desiludido do duelo que tivemos a oportunidade de assistir entre os Lisboa Navigators e os Braga Warriors no jogo que dava acesso para a final da 14ª edição da Liga Portuguesa de Futebol Americano.
Ambas as equipas chegavam a este jogo com a crença de que podiam vencer, mas uma equipa entrou mais determinada do que a outra, e foram os Braga Warriors. Em primeiro lugar começam o jogo com um “suave onside kick”, digo suave porque quase que passou despercebido e quase que foi recuperado, mas os Navigators lá conseguiram ter a bola. Depois de um primeiro drive ofensivo sem grande resposta dos Navigators, aparecem os Warriors em grande estilo e a terem desde logo de arranjar uma “solução para um problema.
Apenas na quarta ou quinta jogada do encontro os Warriors perdem Tiago Ranhada para a partida com uma lesão obrigando João Pitrez a ter que assumir a posição. Entre uma conversão de terceiro down e longo e um passe perfeito para o seu Wide Receiver William Mucury, os Warriors marcam os primeiros pontos da partida já com a bola dentro da redzone da equipa da casa. Os Warriors optaram por jogar para dois pontos e sem sucesso ficavam na frente por 6-0.
Os Navigators tentaram responder ainda no primeiro quarto mas a defesa dos Warriors manteve-se intransponível. Os Warriors depois da perda de Ranhada tentavam encontrar tranquilidade no seu processo ofensivo e Pitrez trouxe isso, entre jogo de corrida e passes “curtos mas certos”, a equipa dos Warriors lá ia progredindo. No entanto seriam os Navigators que conseguiriam marcar, num drive pautado por corrida e onde conseguiram levar a bola até dentro das últimas 5 jardas dos Warriors, seria Tiago Ladeira num passe rápido para Pablo Martins que finalmente quebrava a sequência de 18 quartos de futebol americano sem sofrer pontos, pela defesa dos Warriors. O ponto extra seria bem convertido e tínhamos a primeira mudança de marcador do jogo com o resultado 6-7 a favor dos Navigators.
Ainda antes do jogo ir para intervalo tivemos a resposta dos visitantes, novo drive muito bem conduzido por João Pitrez, aproveitando a agressividade defensiva dos Navigators que enviavam vários jogadores em pressão, acaba por fugir para a sua direita e mete um passe para o seu Wide Receiver Pedro Silva que com a bola a passar a milímetros de dois adversários, vai buscar a bola e marca um grande touchdown para voltar a dar a vantagem para os Warriors. A equipa de Braga tenta os dois pontos novamente, mais uma vez sem sucesso.
Ao intervalo a vantagem era dos Braga Warriors pelo parcial de 12-7, com touchdowns fantásticos e já com três mudanças de liderança na partida. A expectativa para a segunda parte era grande…
E que ninguém diga o contrário porque este jogo entregou em todas as dimensões. A segunda parte começou um pouco mais atabalhoada para a equipa de Braga, e seriam os Navigators a capitalizarem com um drive positivo que terminava uma recepção de Ricardo Faia a dois tempos. Um passe para a zona exterior do relvado e com dois adversários em cima dele, e mesmo assim Ricardo consegue encontrar a bola, fazer contacto com a mesma ainda que a deixando fugir e depois no processo de queda volta a perceber onde a bola estava e consegue recebê-la para novo touchdown de passe na partida. O ponto extra seria bem convertido e nova mudança de marcador na partida.
Após isto “parada e resposta” para ambos os lados, os Warriors a saber que tinham de marcar, os Navigators a saber que tinham de defender as suas intenções. No último quarto os Warriors ameaçam a liderança do jogo com um pontapé aos postes de 30-40 jardas que teve a distância mas não teve a pontaria.
Nesta fase o jogo parecia que estava controlado por ambas as defesas, os ataques não conseguiam colocar drives longos e sustentados e apenas um erro podia abrir espaço para uma mudança. Foi isso mesmo que aconteceu, em pleno último quarto e com a necessidade de “correr o relógio”, os Navigators de forma difícil de compreender optam por fazer um passe e João Ribeiro, dos Warriors, antecipa-se e consegue uma intercepção dando uma posição premium para o seu ataque regressar ao relvado.
Na sequência disso os Warriors não vacilaram e conseguem levar a bola até próximo da endzone dos Navigators e o próprio João Pitrez agarra na bola e vai para o touchdown sendo que larga a bola no final originando aquilo que podia ter sido interpretado como fumble. A jogada deu sequência a muitos protestos mas a equipa de arbitragem assinalou touchdown.
TIMEOUT NO ARTIGO - Foi a decisão certa?
Na minha opinião, e baseando-me apenas naquilo que consigo validar que foi a jogada no momento, a transmissão do jogo não apanhou o momento final da jogada pelo que não consegui ver nenhuma repetição, pareceu-me que foi touchdown com o jogador a passar a linha da endzone e apenas depois a perder o controlo da bola.
Pareceu-me a decisão certa pela equipa de arbitragem sendo que tudo o que aconteceu depois foi apenas fruto do descontrolo emocional por parte dos Navigators que, em momento algum, se podem deixar levar por isso e têm/devem ter a cabeça no jogo porque enquanto houver tempo no relógio, tudo é possível.
É fundamental que TODOS os envolvidos no Futebol Americano saibam que imagens (fotos ou vídeo) na altura não são passíveis de comprovar o que quer que seja. Não está no regulamento.
É igualmente fundamental que TODOS os envolvidos no Futebol Americano saibam que os árbitros têm de tomar decisões na altura analisando sequências de segundos e sempre com base naquilo que consideram que realmente aconteceu. Neste caso, um dos árbitros (da linha) pareceu-me não ter dúvidas que a bola passou a linha de endzone, então decisão tomada e jogo segue.
Uma equipa de arbitragem tem vários elementos para efectivamente cada um se focar numa parte do campo, nas suas responsabilidades e tomar a decisão em equipa.
Segue a análise...
Tanto é verdade o que digo que aconteceu, na sequência do touchdown dos Warriors e de dois pontos novamente falhados, temos a bola a ser reposta em jogo para um kickoff e Pablo Martins assumiu o jogo e levou a bola em todo o comprimento do campo para marcar imediatamente touchdown e voltar a dar a vantagem aos Navigators. Ainda não tínhamos tido um único kickoff para touchdown esta temporada da LPFA, mas quando foi mais preciso para dar ainda mais emoção ao jogo, aconteceu.
A ganharem por dois, e novamente de forma inexplicável, os Navigators optam por ir para dois pontos e falham. Consigo compreender a decisão de tentar levar a partida para “território de touchdown”, mas com os Warriors a já terem previamente mostrado a capacidade de meter fieldgoals longos, pareceu-me uma decisão mais emotiva do que racional.
Ainda havia tempo e os Warriors conseguiram levar a bola até zona de pontapé aos postes, entre um boa posição no kickoff, um pass interferente bem assinalado, e algumas boas jogadas, os Warriors estavam em posição de ganhar o jogo com três pontos. No entanto, a época dos Warriors termina com um pontapé bloqueado, e a época dos Navigators continua depois de um jogo onde a emoção foi maior do que qualquer razão e agora avançam para um duelo inédito, em final, contra os Lisboa Devils.
Análise ao jogo dos Warriors
Os Warriors tiveram de lidar desde o 1º drive do jogo com a perda do seu quarterback, nunca perderam o seu foco e foram sempre orientados a soluções. A forma como João Pitrez entrou na partida foi fantástica, a defesa quando sofreu pontos nunca deixou de jogar dentro da sua essência e foram, são, uma verdadeira equipa de Futebol Americano.
Único ponto que destaco como relevante para a história do jogo foi a aposta nos dois pontos ao invés dos pontos extra, tentaram 3 vezes e falharam as 3 vezes, não percebi a intenção e obviamente teve influência total no jogo.
Análise ao jogo dos Navigators
Análise idêntica aquilo que foi a época inteira, uma defesa muito coesa, sofreram pontos mas nunca deixaram de jogar dentro da sua identidade, físicos e capazes de dar o jogo ao seu ataque. Ofensivamente, difícil de compreender o playcalling da equipa, a decisão de passarem a bola no último quarto é inexplicável, e acho que tiveram a “sorte do jogo” dentro daquilo que acabou por ser o rumo da partida.
MVP do jogo
O MVP do jogo para mim tem de ser o Pablo Martins (Navigators) que não só marcou dois touchdowns, mas foi responsável pelo retorno em kickoff que foi épico de se assistir. No entanto quero destacar o João Pitrez (Warriors) que teve de assumir a posição de quarterback, lança dois touchdowns de passe, ambos muito bons, e ainda marca um touchdown de corrida.