O diabo veio preparado

Mais um jogo que carregava a expectativa de uma boa partida de Futebol Americano com os Lisboa Devils a viajarem até ao norte do país para defrontarem os Salgueiros Renegades.

Um jogo que já trazia “bagagem” antes do apito inicial, quer seja pelo resultado do jogo da fase regular (Renegades 7-6 Devils), quer seja por toda a situação com a marcação do campo, dia e hora do jogo nos playoffs. Importante destacar dentro da nossa análise que a transmissão do jogo acabou por ser feita com uma resolução imprópria, algo que nos condiciona imenso na análise e naquilo que podemos colocar em palavras.

No entanto a partir do momento em que o jogo começou tivemos a certeza que ambas as equipas vieram para jogar. Os Renegades começaram com a bola e no seu primeiro drive conseguiram ir movendo a bola, levaram até uma posição onde acharam estarem reunidas as condições para um pontapé de Luis Perez que infelizmente não encontrou a direção pretendida.

A resposta dos Devils foi imediata e, ofensivamente, foram movendo a bola com Jesuíno “Juzz” Furtado a ter protagonismo, mas com o jogo de passe a ser igualmente presença forte. Com a defesa dos Renegades a não permitir o avanço até próximo da endzone, foi chamado ao jogo o “pontapé do Solipa”, e Guilherme não falhou dando a vantagem aos Devils pelo resultado de 3-0.

Durante a primeira parte o jogo passou muito por tentativas de ganhar ímpeto ofensivo, mas sem nunca haver um claro domínio por uma das parte. Defensivamente a equipa dos Devils ia instalando o caos no backfield dos Renegades, Francisco estava constantemente sobre pressão e Luan “Jacaré” Arruda era o principal protagonista, e no lado dos Renegades a sua defesa ia conseguindo conter Juzz e forçado o jogo a ficar num registo de “poucos pontos”.

Ainda antes do intervalo esse ímpeto acaba por ser contido, os Devils com algumas jogadas com bonitas variações, levando Guilherme Solipa em motion e correndo a bola para o seu lado, levando-o em motion e fazendo passe em profundidade, levando-o em motion e correndo pelo meio com Bruno Cardoso, lá foram iludindo a defesa dos Renegades. Seria já com a bola na porta da endzone que teríamos o Bernardo Solipa a fazer um passe para a zona exterior da endzone e Bruno Cardoso recebe para touchdown e dilatar a vantagem na partida depois do ponto extra bem convertido.

Ao intervalo o resultado era de 10-0 a favor dos Lisboa Devils que pareciam uma equipa com um plano de jogo mais estruturado e com os Salgueiros Renegades a estarem a cair num “fosso” difícil de sair.

Na segunda parte o “São Pedro” decidiu aparecer e a chuva juntou-se ao jogo, com isso surgiram jogadas caricatas, como ver Bernardo Solipa a correr estilo “Russel Wilson” como foi destacado pelo Davi Arcanjo na transmissão, ou o Bruno Cardoso sofrer um fumble que com alguma sorte foi recuperado pelo seu colega de equipa.

Mas nenhuma foi mais caricata do que ver Francisco Pereira, depois de encontrar João Maioto num passe fantástico para o meio do relvado, na jogada seguinte tentar um passe e a bola fugir-lhe das mãos para depois a recuperar e ganhar entre 20-30 jardas numa corrida de improviso. Simplesmente a capacidade de Francisco a ser a chama dos Renegades.

Na sequência desse drive temos os Renegades a tentarem um pontapé aos postes que se tornou um “fake” com Sandro Lopes a tentar um passe que foi incompleto. Uma decisão difícil de compreender num 4th down e 10 jardas e numa jogada onde obrigava Sandro a ter que rodar sobre todo o seu corpo para tentar completar o passe. No entanto houve falta na jogada e os Renegades ganham nova vida, com nova sequência de jogadas.

Nessa “nova vida” os Renegades acabam por conseguir capitalizar com Pedro “Shakes” Ferraz, um jogador que normalmente está na defesa, acaba por assumir a posição e depois de duas corridas, marca o seu primeiro touchdown e deixa os Renegades com pontos na partida, relançando o jogo até ao final. O ponto extra é devidamente convertido.

A resposta dos Devils foi imediata, um drive que terminou o 3º quarto e iniciou o último, onde a corrida foi a constante, Juzz e Boris com corridas sempre positivas, Bernardo também a carregar a bola e depois o Bruno Cardoso também a completar alguns primeiros Downs importantes. 

Foi um drive de “uso e abuso” do relógio e a partir do momento em se encontraram nas últimas 20 jardas foram cinco jogadas consecutivas de Juzz a correr com a bola e, na última, com a bola a ir diretamente para as mãos dele e com os 6 pontos a serem a consequência. O ponto extra seria falhado por Guilherme Solipa.

Depois deste drive os Renegades ainda tiveram a bola mas nunca conseguiram marcar, infelizmente não temos mais vídeo que possamos ver e analisar pelo que o resultado final ficou nos 16-7 com a equipa dos Lisboa Devils a avançar para a sua sexta final, procurando agora regressar aos títulos algo que lhes escapa desde a LPFA10.

Análise ao jogo dos Devils

O plano de jogo dos Devils foi muito sólido, no plano ofensivo passou por estabelecer a corrida para depois tentar passar a bola, teve em consideração o momento do jogo e, para mim, o drive em que marcam o seu segundo touchdown do jogo, já no último quarto, foi talvez o melhor drive que me lembro de ver os Devils fazerem a época inteira. Levaram facilmente mais de 6 minutos de relógio, correram sempre a bola e terminaram com criatividade e seis pontos. 

Defensivamente vieram igualmente preparados, sempre com pressão no seu adversário, bons ângulos nas fugas do Francisco do pocket e apenas as faltas os foram colocando em posição adversa.

Análise ao jogo dos Renegades

A defesa veio muito fiel a si própria, muito física, muito combativa e a conseguir sempre limitar o seu adversário. Acho que foram de alguma forma prejudicados na segunda parte pela incapacidade do seu ataque em sustentar drives, estavam sempre em campo e isso acabou por os prejudicar.


O ataque continua para mim a ser um mistério, vive 100% do improviso do Francisco, tudo parece “Backyard Football” e nada parece treinado. Existe zero antecipação e timing em tudo o que é feito. Infelizmente o motivo da época dos Renegades terminar aqui é mesmo pela incapacidade do ataque em ser produtivo e marcar pontos.

MVP do jogo

“É fácil dizer “Juzz”, podia igualmente destacar a linha ofensiva porque todos conseguiram correr atrás deles de forma consistente, mas vou dar o MVP ao Bernardo Solipa pelo plano de jogo que montou e por ter conseguido jogar dentro da sua estrutura, sem grandes erros, e sempre com noção daquilo que o jogo lhe estava a pedir.”

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