Na sequência do final de temporada dos Braga Warriors fomos falar com João Soares, coordenador defensivo dos Braga Warriors, uma equipa que este ano surpreendeu tudo e todos (menos a eles próprios!) e deixaram uma marca na competição com uma das defesas mais bem treinadas e trabalhadas da competição.
Como avalias a prestação geral dos Braga Warriors na 14ª edição da LPFA?
No geral, e olhando para aquilo que foi o percurso dos Warriors nesta liga, foi muito bom. Uma das etapas deste ano eram os playoffs e depois seria game by game. Obviamente que o objetivo quando se começa a época é sempre ser campeão, mas é preciso também definir, dentro do próprio objetivo, etapas para o seu sucesso.
Fala-nos um pouco do teu percurso enquanto membro dos Braga Warriors e como chegaste até coordenador defensivo dos Warriors?
Bom, na realidade não há muito a dizer. Como jogador dos Warriors tenho no palmarés 3 jogos e 3 jogadas. Uma lesão no joelho direito no jogo contra os Black Knights, em Dezembro de 2017, ditou o afastamento das lides de jogador e, como é sempre necessário staff, fiquei na época de 2018/2019 como assistente dos treinadores sem posição especifica.
Na época 2019/2020, o na altura Coordenador Defensivo Bruno Panta Ferreira, fez-me o convite para treinar a DL dos Warriors. Seria ainda nesta época que assumiria o meu primeiro jogo como playcaller frente aos Paredes Lumberjacks, em Março de 2020. Coincidência ou não, o Município de Braga fechou todos os equipamentos desportivos no dia seguinte ao jogo que foi na altura a primeira vitória da época.
Seria na época 2021/2022 que, devido a alguns infortúnios, vi-me a liderar a defesa dos Warriors desde Outubro 2021. Desde aí assumo a defesa dos Warriors como Coordenador Defensivo, e nas épocas 2021/2022 e 2022/2023 também treinador de DL. Este ano, acumulo com treinador de DBs, deixando a DL a cargo do nosso capitão, Manuel Seixas e os Linebackers a cargo do Ricardo “Ponto” Pereira.
Olhando para a evolução dos Warriors esta temporada, começaram a época com 2 derrotas, somaram 4 vitórias consecutivas e chegaram aos playoffs quentes. Qual foi o vosso segredo?
Não lhe chamaria um segredo. A verdade é que depois da derrota contra os Renegades, e depois de tudo o que deixamos em campo, sempre ficamos com a sensação que podíamos e devíamos fazer algo mais. Apenas mudamos a nossa mentalidade para refletir os jogos que faltavam. Entravamos nos jogos com “a faca no pescoço” e saíamos dos jogos com a mesma faca, na mesma posição. Enquanto as conversas de bancada diziam que um 3-3 “chegava” para os playoffs, sempre corrigi que só o 4-2 nos poderia pôr nos playoffs, mais nenhum resultado nos servia a não ser as 4 vitórias em outros tantos jogos. E foi assim que entramos nos Bulldogs, nos Navigators, nos Mutts, nos Crusaders e por fim novamente nos Navigators.
Os Warriors conseguiram estar 18 quartos de Futebol Americano sem sofrer pontos, quais foram os ingredientes que cultivaram este sucesso e o trabalho que a tua defesa foi fazendo ao longo da época? Qual é a tua filosofia defensiva?
Há várias partes, igualmente importantes, dentro da nossa defesa que fizeram claramente a diferença. Desde o jogo com os Devils, que foi um jogo bem disputado apesar da diferença de pontos, que a nossa defesa veio a evoluir muito por culpa dos lideres que temos dentro da defesa já que o talento estava lá, o knowledge estava lá, só faltava organização. Mudamos também algumas peças de lugar dentro da própria defesa que fez com que jogassem com maior fluidez. O facto de termos o Ricardo e o Manuel a atuarem como lideres fez com que a desorganização que existia, praticamente desaparecesse.
Outra parte muito importante, foi o facto de os jogadores finalmente entenderam que, para jogarem FA, têm de se divertir, têm de festejar as pequenas vitórias, uma deflection, um forced fumble, um tackle, pode parecer coisa pouca, mas a verdade é que podem mudar um jogo e já vimos isso a acontecer várias vezes. O trabalho que os nossos 24 jogadores da defesa fizeram é notável. Não nos focamos muito no resultado a 0. Simplesmente estávamos a fazer aquilo que sabíamos, como sabíamos e como conseguíamos.
Quando o jogo caminhava para o final, a pergunta era sempre a mesma: vamos continuar a fazer o que sabemos, para acabarmos a 0? E a decisão era sempre deles até porque, como eu costumo dizer, são eles que estão lá dentro a levar porrada e não eu.
Quanto à filosofia defensiva, digamos que será KISS – keep it simple, stupid. Em vez de moldar os jogadores ao playbook, moldar o playbook para os jogadores que temos. Tem sido sempre assim, e é assim que irá continuar enquanto eu for o coordenador defensivo. Não adianta estarmos a tentar utilizar “coisas bonitas” quando não temos o personnel especifico para as fazer então, é melhor ter um playbook que se possa moldar aos jogadores que se tem.
Do nosso lado (Tudo sobre FA) fomos destacando ao longo da época a importância da adição do Coach Niclas Steklmacher. O que trouxe ele de “diferente/especial” para a equipa?
O Coach Niclas é de facto alguém especial. Tem vários anos de futebol americano, chegou inclusive a treinar nos EUA. Como tem um passado militar, a disciplina foi a adição mais importante que ele nos trouxe e claro está todo o seu conhecimento acumulado ao longo dos anos e das equipas por onde jogou/treinou. Além de HC, acumula a função de Special Teams coach que, já na época anterior, nos trouxe bons resultados.
Olhando agora para o jogo contra os Lisboa Navigators, perderam o vosso quarterback titular no 1º drive ofensivo, mesmo assim estiveram sempre no jogo até aos últimos segundos, como analisas a prestação dos Warriors no jogo em Lisboa?
Numa só palavra: incrível! Foi um dos melhores jogos que tive o prazer de vivenciar em Portugal. Sempre taco a taco, sem ninguém dar o jogo por perdido. Foi realmente complicado perdermos o Tiago Ranhada no 1º drive e mais tarde perdermos também o FB Pedro Pavezzi. Tinha perfeita confiança no que o Pitrez iria conseguir produzir e toda a equipa tinha a mesma confiança.
Para mim, foi essa a chave para o jogo não descambar depois da lesão do Ranhada e termos conseguido levar o jogo até aos últimos segundos. A nível defensivo conseguimos segurar bastantes investidas dos Navigators, tenham sido por corrida ou passe e tentamos dar o máximo de tempo e oportunidades ao nosso ataque. No lado ofensivo, apesar de algumas jogadas não terem corrido como esperado, tentamos sempre discutir o jogo, e dar espetáculo. Todos estavam na mesma página, e com o mesmo foco na vitória.
Foi um jogo realmente difícil de digerir no final, mas também é preciso entender que do outro lado também existem pessoas que treinam todas as semanas para o mesmo objetivo e, no final, só um pode ganhar.
Para a próxima temporada, o que precisam os Warriors de fazer de diferente para conseguirem estar na final da 15ª edição da LPFA?
Bom, em primeiro o Ranhada tem de deixar de se lesionar nos playoffs. Só isto já era uma grande ajuda. Se a equipa continuar com o foco que acabou, com a disciplina que acabou, com o querer que acabou esta época, as coisas boas virão. Como o cliché diz, o único sítio em que sucesso vem primeiro que trabalho é no dicionário. Não podemos querer ser campeões se não formos aos playoffs, não podemos ir aos playoffs se não ganharmos jogos, não podemos ganhar jogos se não formos aos treinos. É simples, para se ser campeão é preciso muito trabalho, esforço e dedicação. O resto só a sorte o ditará, mas primeiro é preciso controlar aquilo que conseguimos.
Olhando para a LPFA14 de forma global qual a tua opinião sobre o plano desportivo e aquilo que vimos acontecer?
Na minha opinião, foi a melhor liga nos últimos tempos. Indecisões de resultado até ao fim dos jogos como por exemplo Devils v Renegades ou Warriors v Navigators, surpresas em alguns jogos ditos “fáceis”, como por exemplo o jogo Crusaders v Navigators ou Navigators v Bulldogs, grandes jogadas nos 3 lados da bola. Sinceramente, foi uma liga que qualquer adepto de FA em Portugal deveria aplaudir porque foi quentinha até ao fim. O fim da série de vitórias dos Crusaders, apimentou a liga e as equipas viram que “Any Given Sunday” é mesmo possível e isso é sempre maravilhoso de se ver.
Algum prognóstico que nos queiras deixar para a final entre os Lisboa Devils e Lisboa Navigators?
Na minha opinião será um jogo bem disputado e com emoção. Os jogos entre os 2 são sempre discutidos até ao fim e com pouca diferença de pontos. Apostar num campeão, não é fácil, mas se formos pelas estatísticas, pelos jogos entre os 2 e pela mentalidade, diria que os Navigators partem na frente. No entanto, os Devils têm sempre a wild-card do Juzz o que, por si só, invalida tudo o que disse. Quem viu o jogo contra os Crusaders sabe perfeitamente o que pode acontecer, por isso, desde que seja um jogo bem disputado, sem atritos e coisas extra-football, qualquer um será o merecido vencedor.