O encontro de dinastias

Os americanos descrevem uma dinastia no desporto como um domínio competitivo durante um período temporal entre 3 a 5 anos, ou seja, durante esse período ganhar pelo menos três campeonatos.

Nesse aspecto, apenas duas equipas conseguiram estabelecer as suas dinastias na Liga Portuguesa de Futebol Americano, os Navigators que ganharam seis campeonatos entre 2009 e 2015, e os Devils que ganharam três campeonatos entre 2016 e 2019. Os Crusaders que ganharam os últimos dois campeonatos, este ano não conseguiram efectivar a sua dinastia, mas podem fazê-lo no próximo ano.

Mas voltando a este jogo, e tudo aquilo que carrega, tivemos a oportunidade de abordar o jogo com ambos os treinadores mas queremos agora destacar o caminho de ambas as equipas bem como destacar aqueles que serão os principais duelos a acompanhar ao longo da partida que será então o encontro entre as duas dinastias do Futebol Americano em Portugal.

O caminho dos Lisboa Devils

Os Devils começaram a fase regular com uma vitória contundente diante dos Braga Warriors, seguiu-se uma vitória  igualmente clara diante dos Lisboa Bulldogs. Ao terceiro jogo da fase regular sofreram a primeira derrota, num jogo em casa, diante dos Salgueiros Renegades com o jogo com menos pontos da história desta fase regular.

Conseguiram posteriormente regressar às vitórias com uma viagem ao norte do país para defrontar os Maia Mutts e posteriormente acabaram por perder diante dos Lisboa Navigators num jogo disputado tardiamente, num sábado para domingo. No último jogo da fase regular acabaram por conseguir surpreender tudo e todos, talvez menos a eles próprios, com uma remontada de 14 pontos para vencerem os Cascais Crusaders e eliminar os seus rivais, e campeões em título, da competição.

Na fase a eliminar tiveram a oportunidade de vingar a derrota da fase regular diante dos Salgueiros Renegades e conseguiram consumar essa vingança de forma objectiva e clara.

O caminho dos Lisboa Navigators

A fase regular dos Lisboa Navigators foi uma montanha russa, ou um hambúrguer de emoções, começou com duas vitórias, trouxe duas derrotas, e termina com mais duas vitórias.

Nas duas vitórias inicias o grande destaque foi a “surpresa” de irem a casa dos rivais Cascais Crusaders e derrubarem uma equipa que vinha de 21 jogos consecutivos a vencer. Nas duas derrotas que se seguiram, uma viagem dura a casa dos Braga Warriors seguida de uma derrota surpreendente contra os Lisboa Bulldogs que na altura seguiam com 4 derrotas consecutivas. Nas duas vitórias finais, derrubam os seus rivais da final, os Lisboa Devils, e uma viagem dura até ao norte do país para derrubar os Salgueiros Renegades.

Na fase a eliminar têm a oportunidade de se redimir da derrota na fase regular diante dos Braga Warriors, desta vez recebendo a equipa minhota na sua casa, e não falharam com um jogo de detalhes onde a vitória acabou por lhes sorrir.

Os protagonistas de vermelho e preto

A equipa dos Lisboa Devils traz o ataque mais produtivo da fase regular da LPFA com 135 pontos marcados e com mais 16 no jogo da fase a eliminar diante dos Salgueiros Renegades.

O jogo ofensivo da equipa dos Devils passa por conseguirem correr a bola para controlar o jogo, para conseguirem também impor o seu jogo de passe e acima de tudo serem produtivos. Uma diferença (positiva) que encontramos na equipa este ano e que se tem afirmado mais ao longo dos últimos jogos, é a capacidade da equipa de realmente correr a bola e não serem apenas uma equipa explosiva ou de “big plays”.

Os protagonistas principais passam obviamente pelos irmãos Solipa, Bernardo e Guilherme, que partilham muitas das grandes jogadas da equipa. Continua com o Bruno Cardoso que é o verdadeiro canivete suíço da equipa na perspectiva ofensiva e, o terceiro elemento é sem sombra de dúvidas Jesuíno Furtado que nos últimos dois jogos marcou quatro touchdowns está talvez no seu melhor momento de forma da temporada.

No plano defensivo falamos da terceira melhor defesa em pontos sofridos com 77 pontos na fase regular e apenas 7 pontos sofridos no jogo dos playoffs. 

A defesa dos Devils vive de uma linha defensiva onde Luan “Jacaré” Arruda é o principal protagonista, mas um jogador que foi expulso no jogo dos playoffs e que não irá  jogar a final. No segundo nível tem o experiente David “Jardas” Martins, o MVP da última final ganha pelos Devils (LPFA10, em Mafra) e igualmente o experiente Albert Case , americano de nacionalidade mas um natural jogador de futebol americano.

Mas o melhor da defesa dos Devils estará talvez na sua secondary onde encontramos o inevitável Floris Cauwenberge junto com Afonso Lucas que formam uma das duplas mais completas de safeties da nossa liga. Temos obviamente também de mencionar o Leonardo Morais que tal como o seu treinador principal partilha também a responsabilidade de jogar e chamar jogadas, junto com Carlos Vasconcelos, jogador que se transferiu dos Mutts para os Devils e foi quem colocou o ponto final com uma intercepção no jogo final da fase regular diante dos Cascais Crusaders.

Os protagonistas de azul e branco

A equipa dos Lisboa Navigators traz uma equipa mais “equilibrada” no que diz respeito a pontos marcados e sofridos, com 87 e 85 respectivamente, sendo que na fase a eliminar a coisa pouco mudou, 20 marcados e 18 sofridos novamente numa diferença de dois pontos apenas.

O jogo ofensivo dos Navigators passa por uma linha ofensiva que gosta de impor o seu jogo, um quarterback no Tiago Ladeira que gosta de correr com a bola, juntamente com vários running backs que trazem estilos diferentes e capacidades de impactar o jogo de forma diferente. No jogo de passe falta um claro “alfa”, mas não tem sido por aí que a equipa tem ganho os jogos.

Como mencionado o jogo de corrida será o grande cálice para o sucesso da equipa dos Navigators, o nosso destaque vai passar pela verticalidade de Jardel Araújo, a consistência de Ricardo Ladeira, a dinâmica de Rafael Silva e, acima de tudo, do impacto que o violento Nélson Fidalgo pode trazer ao jogo.

No plano defensivo, a unidade dos Navigators que mais destaque teve ao longo do jogo, existem vários destaques que temos de dar. A linha defensiva tem em José Soares, na nossa opinião, o jogador que mais pode fazer a diferença a nível individual, mas complementa com João Nes e Edinaldo “Naca” Estrela que foi suspenso no último jogo e não irá jogar.

Na segunda linha temos Pedro Figueiras e Paulo Silva como as principais referências, o primeiro mais no miolo do terreno a coordenar as operações, e o segundo a ser o “mestre do contain” e um adepto de levar pressão aos adversários.

Mas não podemos deixar de destacar aquela que para nós poderá ser a unidade mais importante desta equipa, o grupo de defensive backs, onde Nuno Rodrigues e Rodrigo Menezes são uma das duplas mais jovens e bem trabalhadas da nossa liga, uma dupla que terá uma missão chave nesta partida que será conter a verticalidade do jogo aéreo dos Devils.

As chaves do jogo

Existem para nós três grandes chaves do jogo quando projetamos este embate entre os Lisboa Navigators e os Lisboa Devils.

A primeira é quem vai realmente ganhar a batalha da linha de scrimmage e, nesse departamento, é uma batalha para os Navigators perderem. Têm mais experiência acumulada nas duas linhas, têm mais profundidade e têm igualmente mais tempo de jogo junto. Neste campo a forma como os Devils vão lidar e limitar o impacto de José Soares vai ser determinante.

As ausências de Edinaldo “Naca” Estrela e Luan “Jacaré” Arruda tem impacto para ambas as equipas, tem impacto obviamente para os amantes do desporto, mas a ausência do Naca será mais impactante por tudo o que ele pode trazer ao jogo.

A segunda chave do jogo será como vão os Navigators impedir os Devils de serem verticais a nível de passe, uma missão que em jogos recente foi muito bem entregue. Neste departamento será também fundamental perceber como os Devils não acabam por cair no erro de quererem ser demasiado neste departamento, acabando por fugir ao seu estilo e potencial plano de jogo. O jogo de corrida está intrinsecamente ligado a isto, para ambas as equipas será o combustível para o sucesso, sendo que existe maior profundidade nos Navigators, mas existe mais Juzz para fazer a diferença do lado dos Devils.

A terceira chave do jogo, na nossa opinião, vai passar pela batalha que vai acontecer na cabeça dos dois pensadores ofensivos. Do lado dos Navigators, com o treinador Daniel Silva, do lado dos Devils, com o treinador e jogador Bernardo Solipa. Ambos já nos mostraram ao longo da temporada que são capazes de ganhar e perder jogos com as suas decisões, ambos têm tido dificuldades em serem consistentes e, em alguns momentos, têm sido “salvos” pelo trabalho defensivo ou pela “sorte do jogo”. 

Veredicto final

Um claro jogo de detalhes que iremos ter pela frente, toda e qualquer decisão poderá ter um impacto final no resultado, a nível dos duelos individuais e posicionais identificamos uma clara vantagem para a equipa dos Lisboa Navigators, mas existe um elemento determinante que é a experiência em “jogos grandes” e, aqui, os Devils têm uma profunda vantagem que na nossa opinião poderá ser o fator que faz a diferença no final do jogo.

Do lado dos Navigators temos apenas Filipe Campos, Pedro Calado, Ricardo Ladeira e Paulo Silva com experiências em finais e todas elas em 2015 ou antes. Do outro lado, temos muitos mais jogadores que estiveram nos grandes palcos ainda que tenham perdido as últimas duas finais disputadas em 2022 e 2023.

O jogo poderá resumir-se a isso mesmo, a experiência para lidar com os momentos grandes do jogo.

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