Ao longo da temporada falámos dos detalhes, ao longo da temporada falámos da necessidade de saber sofrer, ao longo da temporada falámos de que nunca se desiste e os Lisboa Navigators e Lisboa Devils ouviram e interiorizaram isso ao máximo.
O jogo desde o início que nos mostrou que ambas as equipas trouxeram todo o seu potencial para dentro do relvado e que iriam dar uma espetáculo valioso a quem marcou presença nas bancadas do Clube Futebol Benfica (FOFO) que estava completamente cheio para acompanhar este duelo.
Os Navigators foram os primeiros a marcar, o ataque liderado por Tiago Ladeira trouxe um argumento de jogo muito sólido, o jogo de corrida como principal elemento mas acabaria por ser num excelente passe, em situação de quarto down, que Ladeira encontraria Francisco Simões que conseguiu ganhar o seu duelo individual. O ponto extra seria bem convertido pelo Cláudio Santos, kicker da equipa de azul e branco. (Navigators 7-0 Devils)
Era esperada uma resposta dos Devils, mas ninguém previu que essa resposta iria chegar imediatamente no kickoff seguinte quando Afonso Lucas recebeu uma bola, mostrou paciência e experiência, deixou que a jogada se fosse desenrolando e quando encontrou uma abertura ninguém o conseguiu agarrar e marcou um touchdown belíssimo. O ponto extra foi devidamente concretizado pelo Guilherme Solipa, kicker da equipa de vermelho e preto. (Navigators 7-7 Devils)
Com o jogo num excelente ritmo, super bem disputado, os Navigators voltariam a marcar com um novo drive ofensivo pautado por boas corridas, Jardel Andrade, Nélson Fidalgo, Ricardo Ladeira e Rafael Silva todos a contribuírem, mas com a linha ofensiva dos Navigators a ser o verdadeiro motor do jogo e seria Tiago Ladeira a marcar os seis pontos num mergulho atrás da sua linha ofensiva. O ponto extra não seria bem-marcado depois de um mau snap, este ponto seria um detalhe muito precioso no final do jogo. (Navigators 13-7 Devils)
A expectativa era uma resposta novamente dos Devils, mas os deuses do futebol americano gostam de caos e drama, por isso promovem um fumble no kickoff com Jesuíno “Juzz” Furtado que ainda não tinha tido grande impacto no jogo, a ter um impacto negativo com a bola a ser depois recuperada e dar uma posição no relvado premium para os Navigators.
Com esse posicionamento premium, com quatro jogadas para entrar na endzone, os Navigators não se fizeram rogados e foi Ricardo Ladeira que mergulhou para seis pontos e Cláudio Santos marcaria o ponto extra que dava aos Navigators uma vantagem de duas posses de bola no início do segundo quarto. (Navigators 20-7 Devils)
Nesta fase do jogo os Lisboa Navigators estavam claramente por cima da partida, ofensivamente com um excelente plano de jogo, defensivamente a não darem qualquer margem para os Devils crescerem na partida e o único ponto que se pode apontar foi o ponto extra falhado.
No entanto os Devils finalmente apareceram, com o ímpeto de Jesuíno “Juzz” Furtado o jogo de corrida começou a entrar e seria o canivete suíço do ataque dos Devils, o experiente Bruno Cardoso que acabaria por mergulhar para um ganho curto e os primeiros seis pontos do ataque dos Lisboa Devils na partida. O Guilherme Solipa capitalizava com um ponto extra e o jogo voltava a ficar por uma posse de bola. (Navigators 20-14 Devils)
Uma primeira parte repleta de bom futebol americano não terminava sem mais pontos, mas não numa resposta da equipa dos Navigators, seriam os Devils que ainda conseguiriam capitalizar com pontos ao finalmente a “ligação Solipa” se traduzir em pontos, com Bernardo Solipa a explorar um passe em profundidade para Guilherme Solipa e ele consegue a separação suficiente do seu adversário para capitalizar. Seria depois do seu pé que teríamos a primeira mudança de liderança com um ponto extra uma vez mais bem sucedido. (Navigators 20-21 Devils)
Já na segunda parte o jogo ficou mais mastigado, os dois ataque entraram sem grande sequência ofensiva, sem grande sequência com aquilo que nos mostraram na primeira parte, e seriam as defesas que estariam por cima em grande parte do terceiro quarto do jogo. Nesta altura havia um grande destaque individual por parte de Floris Van Cauwenberge o safety dos Lisboa Devils que era uma máquina placadora e, do lado dos Navigators, o coletivo ganhava relevo mas era Pedro Figueiras e Paulo Silva, linebackers da equipa, que ganhavam mais destaque.
Seriam os Navigators que acabariam por encontrar o rumo para a endzone, já perto do final do quarto e numa situação de quarto down, uma vez mais, os Navigators explorariam um passe para o centro do relvado e encontrava Tiago Ladeira o seu colega Jefton Paiva completamente livre de marcação para uma recepção e cerca de 30 jardas depois teríamos um touchdown. A defesa dos Devils foi demasiado “suave” na abordagem e Jefton aproveitou para os castigar. O ponto extra seria bem convertido mas uma decisão que fica para julgamento futuro pois os dois pontos teriam sido na nossa opinião a melhor escolha e matematicamente faziam sentido para aquilo que o jogo pedia. (Navigators 27-21 Devils)
A resposta no entanto foi imediata, os Lisboa Devils no drive ofensivo seguinte capitalizando com um futebol americano consistente foram movendo a bola e acabaram por conseguir voltar a visitar a endzone com “Juzz” a ser o protagonista com excelentes corridas, inclusive a do touchdown, num speed option muito bem chamado que deixava o jogo empatado. Chamado a converter o ponto extra, Guilherme Solipa não falhava e fazia o 4/4 tentativas. (Navigators 27-28 Devils)
Após isto não tivemos mais pontos e, não foi por falta de oportunidade, ambas as equipas conseguiram continuar a produzir ofensivamente e tiveram oportunidades bem vivas para marcar, mas Floris força um fumble e recupera a Jardel Andrade, depois uma intercepção de Tiago Ladeira num passe “roubado” por Leonardo Morais, e os Devils a nunca conseguirem aproximar-se o suficiente com os esforços defensivos dos Navigators, deixava este jogo decidido por um ponto, algo que tem sido apanágio nos duelos entre Navigators e Devils que nos últimos 5 jogos terminaram 4 deles com diferenças de um ponto apenas. É caso para dizer que não acreditamos em bruxas, mas que elas existem, existem.
O vencedor da grande final da 14ª edição da Liga Portuguesa foram então os Lisboa Devils num jogo que ficou decidido pelas pequenas coisas.
O melhor dos Lisboa Navigators
Na minha opinião foi um jogo muito bem conseguido em todas as frentes por parte dos Navigators. O ataque fez provavelmente o melhor jogo ofensivo da temporada e a defesa conseguiu manter-se fiel ao seu jogo sendo que sentiram a falta do experiente Edinaldo “Naca” Estrela no plano defensivo. Acho que deve existir muito orgulho naquilo que foi feito e conquistado pela equipa dos Navigators.
O melhor dos Lisboa Devils
O espírito da equipa em nunca entrar em pânico quando se encontram a perder por duas posses de bola no segundo quarto, a forma como reagiram animicamente e jogaram sempre indo ao encontro das suas valências. Defensivamente o coletivo valeu sempre mais do que qualquer individualidade ainda que tenha havido um destaque em Floris.
O que decidiu o jogo?
Podemos entrar no tema da decisão dos Navigators em irem para o ponto extra ao invés de jogarem para dois pontos quando marcaram o seu último touchdown da partida e, acredito plenamente, que isso teve impacto na partida.
Mas genuinamente o jogo para mim ficou decidido na experiência dos Devils em estarem nestes jogos que contrasta num plantel mais jovem e inexperiente que está do outro lado. Foi uma “pequena mas grande coisa”.
MVP DO JOGO
O MVP do jogo seria sempre entre Floris Van Cauwenberge e Jesuíno “Juzz” Furtado.
Ambos foram instrumentais para o sucesso das duas equipas, mas a decisão acabou por recair para Floris que acabou por ser o batimento cardíaco da defesa dos Devils que no último quarto forçou dois turnovers e limitou os Navigators a 0 pontos, algo que não conseguiram em nenhum dos anteriores quartos.
Do lado de “Juzz” que poderia também ser o MVP porque amealhou mais de 100 jardas de corrida e marcou o touchdown da vitória, o erro que teve no segundo quarto com o fumble nas equipas especiais e que deu na altura a vantagem de duas posses aos Navigators, acabou por ter peso na decisão de ir com o atleta defensivo ao invés do running back dos Devils.
Nota final
Gostava de deixar um nota final que a equipa de arbitragem fez um trabalho espetacular, com um critério justo e equilibrado ao longo do jogo e que deram espaço para o jogo ser jogado e o espetáculo ser uma bonita consequência.
Vamos agora ver o que nos reserva o futuro da Liga Portuguesa de Futebol Americano porque a 15ª edição da competição arranca …. HOJE!
Todas as fotografias de Figueira.Photo.